janeiro 05, 2012

Entrevista a Cláudia Nunes

Espaço reservado a entrevistas com os jovens da nossa zona. Como estudam, como convivem, participam,  valorizam-se e vão à luta.
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Com a vinda à sua terra para passar alguns dias de férias
à volta da passagem do ano novo, aproveitei para falar
com a jovem, solteira, Cláudia da Silva Nunes, 
na situação de emigrante na Suíça.
No momento em que todos sabemos que muitos milhares
de portugueses têm que recorrer à emigração, aqui fica
um exemplo que teve de sair do seu país. 
Um entre tantos exemplos. Mas como se trata de uma jovem, 
vale a pena conhecer a sua experiência.



Quem é esta jovem?

 Nascida em 14-10-85, portanto com 26 anos de idade, é de naturalidade portuguesa,  embora tivesse nascido na Suíça, é filha de  João da Silva Nunes e de Maria Fernanda Lourenço da Silva Nunes, com morada em Portugal no lugar da Alverca (Oleiros). A Cláudia é irmã de Henrique da Silva Nunes, 28 anos, efectivo na Marinha de Guerra Portuguesa e foi bombeiro voluntário de Oleiros vindo a ser distinguido com a ordem de Mérito por ter salvado pessoas no grande incêndio de 2003.
Esta jovem foi elemento dançante no Rancho Folclórico e Etnográfico de Oleiros, durante oito anos, e pertenceu alguns anos ao Agrupamento de Escuteiros.


Escolas frequentadas:
Na Suíça: frequentou o ensino até à 3ª classe (frequentou as duas escolas – Suíça e Portuguesa);
Em Oleiros: do 4º até ao 12º de escolaridade na escola Padre António de Andrade
No ensino superior: foi aluna na Escola Superior de Saúde, “Dr. Lopes Dias”, em Castelo Branco vindo a terminar o curso de enfermagem em Julho de 2009.
Três meses antes de terminar o curso os pais voltaram a emigrar para a Suíça.
Em Portugal, segundo a entrevistada, enviou curriculum vitae para várias instituições, mas nunca recebeu qualquer resposta. Foi quando decidiu voltar à Suíça para tentar a sua carreira dentro da profissão de enfermagem 
.
Entrámos então nas perguntas e respostas com a maior abertura:

Na Suíça, onde vives atualmente?

Em Fullinsdorf

Moras com teus pais? Trabalham os três?

Vivo com eles sim. Eu e meu pai trabalhamos, mas a mãe não, por questões de saúde.

Conseguiste emprego logo que chegaste à Suíça?

 Não. O processo foi idêntico ao que tinha realizado em Portugal. Mas aqui já todas as instituições responderam “sim” ou “não”, enquanto que, em  Portugal , ainda hoje estou à espera de resposta

Mas, embora já na tua infância tivesses estado na Suíça, sentiste dificuldades de integração agora, quando regressaste?

Sim imensas porque 14 anos fora daquele país foi muito tempo e nem sequer (nos primeiros anos) imaginava regressar lá. A maior dificuldade foi, sem dúvida,  ao nível da língua, porque, no Cantão a que pertenço,  fala-se   Suíço/Alemão o que não facilitou imediatamente o pleno emprego.  Mas a verdade é que mandei curriculum em Agosto e em Outubro tive logo entrevista num Lar de Idosos na localidade onde vivo. Fui aceite com a seguinte condição: fazer um estágio profissional, enquanto me adaptava, nomeadamente à língua e ao sistema de saúde, que é completamente diferente do de Portugal. Fui aceite por um período de um ano.  No entanto, decorridos somente três meses, a instituição fez-me a proposta para ficar não na situação de estagiária mas de contratada sem termo. Estive ali durante um ano e meio de onde guardo as melhores recordações pelo apoio e carinho que me deram.
Entretanto, concorri a nível hospitalar, vindo a ficar colocada no hospital universitário de Basel. (este hospital está classificado como um dos melhores do mundo no ranking internacional).

E foste aceite sem qualquer dificuldade?

Olhe, um facto que me facilitou foi o de ter tirado o curso superior em Portugal, porque o ensino português, na minha área,  é muito considerado neste hospital. Caso contrário, seria mesmo difícil entrar. 

E agora, ainda tens dificuldades de língua ou relacionamento no trabalho, nomeadamente com os doentes?

Agora já não. Estou à vontade e os doentes, quando me apresento por senhora NUNES é que me dizem: “Ah você é portuguesa!”. A nível profissional sinto-me bem mesmo. É claro que, ser emigrante nestas idades,  acaba por cortar com relações que temos no nosso país, porque é difícil deixar família e amigos longe de nós. 

Quando podes (ou podem) vêm a Oleiros? Sentes que esta terra é a do coração?

Sempre. Porque aqui todos me conhecem e eu conheço todos, enquanto  que,  na Suíça não se conhece praticamente ninguém.Por enquanto é muito forte a minha ligação a Oleiros.

Mas… pensas voltar para Portugal?

Atualmente, repito, actualmente,  penso  ficar na Suíça, embora goste muito de vir à “santa terrinha”

Utilizas muito as novas tecnologias para comunicar com familiares teus, nomeadamente os jovens?

Todos os dias. É obrigatório! (risos)

Musicalmente quais são as tuas referências?

Bryan Adams e aqui em Portugal, Toni Carreira. Veja só esta curiosidade: quando estava em a viver aqui, quase detestava ouvir a maioria dos artistas portugueses, enquanto que, agora, quando se está fora, bate a saudade pelos nossos, logo pela nossa música.  É curioso.

Onde passaste o Natal e com quem?

 Passei-o em casa dos meus pais na Suíça, com eles e meu irmão Henrique que se deslocou lá propositadamente para estarmos juntos. No entanto, todos estamos já aqui em Oleiros, onde já fizemos a passagem do ano.

És uma moça em terra fria (neve) e de coração quente?

 Sim, embora tranquila.

Isso quer dizer que não “sofres” de amores atualmente?
 
No sentido em que me pergunta, não. Não sofro, mas...

Estamos a terminar  esta entrevista.  Que te parece a afirmação do Primeiro  Ministro ao dizer aos licenciados para emigrarem?

Acho mal, porque quem deveria incentivar mão de obra especializada e científica a fixar-se em Portugal , criando-lhes condições para isso, acaba por estar a fazer completamente o oposto.  Há quem emigre por opção própria mas emigrar por necessidade (não ter emprego no seu país) já é outra SITUAÇÃO. Eu sou um desses casos.

No final, costumo dar espaço para uma mensagem dos entrevistados. No teu caso, que dirias a todos,  mas especialmente aos jovens para enfrentarem este ano duro como se sabe?

Que nunca percam a esperança…
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Nota: no momento em que a entrevista vai para o ar já a entrevistada está de regresso ao seu trabalho. 

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