Espaço reservado a entrevistas com os jovens da nossa zona. Como estudam, como convivem, participam, valorizam-se e vão à luta.
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Com a vinda à sua terra para passar alguns dias de férias
à volta da passagem do ano novo, aproveitei para
falar
com a jovem, solteira, Cláudia da Silva Nunes,
na situação de emigrante na
Suíça.
No momento em que todos sabemos que muitos milhares
de portugueses têm que recorrer à emigração, aqui fica
um exemplo que teve de sair do seu país.
Um entre tantos exemplos. Mas como
se trata de uma jovem,
vale a pena conhecer a sua experiência.
Quem é esta jovem?
Nascida em 14-10-85, portanto com 26 anos de
idade, é de naturalidade portuguesa,
embora tivesse nascido na Suíça, é filha de João da Silva Nunes e de Maria Fernanda
Lourenço da Silva Nunes, com morada em Portugal no lugar da Alverca (Oleiros).
A Cláudia é irmã de Henrique da Silva Nunes, 28 anos, efectivo na Marinha de
Guerra Portuguesa e foi bombeiro voluntário de Oleiros vindo a ser distinguido
com a ordem de Mérito por ter salvado pessoas no grande incêndio de 2003.
Esta jovem foi elemento dançante
no Rancho Folclórico e Etnográfico de Oleiros, durante oito anos, e pertenceu
alguns anos ao Agrupamento de Escuteiros.
Escolas frequentadas:
Na Suíça: frequentou o ensino até
à 3ª classe (frequentou as duas escolas – Suíça e Portuguesa);
Em Oleiros: do 4º até ao 12º de
escolaridade na escola Padre António de Andrade
No ensino superior: foi aluna na Escola
Superior de Saúde, “Dr. Lopes Dias”, em Castelo Branco vindo a terminar o curso
de enfermagem em Julho de 2009.
Três meses antes de terminar o
curso os pais voltaram a emigrar para a Suíça.
Em Portugal, segundo a
entrevistada, enviou curriculum vitae
para várias instituições, mas nunca recebeu qualquer resposta. Foi quando
decidiu voltar à Suíça para tentar a sua carreira dentro da profissão de
enfermagem
.
Entrámos então nas
perguntas e respostas com a maior abertura:
Na Suíça, onde vives
atualmente?
Em Fullinsdorf
Moras com teus pais? Trabalham
os três?
Vivo com eles sim. Eu e meu pai trabalhamos, mas a mãe não, por questões de saúde.
Conseguiste emprego
logo que chegaste à Suíça?
Não. O processo foi idêntico ao que tinha realizado
em Portugal. Mas aqui já todas as instituições responderam “sim” ou “não”,
enquanto que, em Portugal , ainda hoje
estou à espera de resposta
Mas, embora já na tua infância tivesses estado na Suíça, sentiste
dificuldades de integração agora, quando regressaste?
Sim imensas porque 14 anos fora daquele
país foi muito tempo e nem sequer (nos primeiros anos) imaginava regressar lá.
A maior dificuldade foi, sem dúvida, ao
nível da língua, porque, no Cantão a que pertenço, fala-se
Suíço/Alemão o que não facilitou imediatamente o pleno emprego. Mas a verdade é que mandei curriculum em
Agosto e em Outubro tive logo entrevista num Lar de Idosos na localidade onde vivo.
Fui aceite com a seguinte condição: fazer um estágio profissional, enquanto me
adaptava, nomeadamente à língua e ao sistema de saúde, que é completamente
diferente do de Portugal. Fui aceite por um período de um ano. No entanto, decorridos somente três meses, a
instituição fez-me a proposta para ficar não na situação de estagiária mas de
contratada sem termo. Estive ali durante um ano e meio de onde guardo as
melhores recordações pelo apoio e carinho que me deram.
Entretanto, concorri a nível
hospitalar, vindo a ficar colocada no hospital universitário de Basel. (este
hospital está classificado como um dos melhores do mundo no ranking
internacional).
E foste aceite sem
qualquer dificuldade?
Olhe, um facto que me facilitou foi o de ter tirado o curso superior
em Portugal, porque o ensino português, na minha área, é muito considerado neste hospital. Caso
contrário, seria mesmo difícil entrar.
E agora, ainda tens
dificuldades de língua ou relacionamento no trabalho, nomeadamente com os
doentes?
Agora já não. Estou à vontade e os doentes, quando me
apresento por senhora NUNES é que me dizem: “Ah você é portuguesa!”. A nível
profissional sinto-me bem mesmo. É claro que, ser emigrante nestas idades, acaba por cortar com relações que temos no
nosso país, porque é difícil deixar família e amigos longe de nós.
Quando podes (ou
podem) vêm a Oleiros? Sentes que esta terra é a do coração?
Sempre. Porque aqui todos me conhecem e eu conheço todos,
enquanto que, na Suíça não se conhece praticamente ninguém.Por enquanto é muito forte a minha ligação a Oleiros.
Mas… pensas voltar
para Portugal?
Atualmente, repito, actualmente, penso
ficar na Suíça, embora goste muito de vir à “santa terrinha”
Utilizas muito as
novas tecnologias para comunicar com familiares teus, nomeadamente os jovens?
Todos os dias. É obrigatório! (risos)
Musicalmente quais
são as tuas referências?
Bryan Adams e aqui em Portugal,
Toni Carreira. Veja só esta curiosidade: quando estava em a viver aqui, quase
detestava ouvir a maioria dos artistas portugueses, enquanto que, agora, quando
se está fora, bate a saudade pelos nossos, logo pela nossa música. É curioso.
Onde passaste o Natal e com quem?
Passei-o em casa dos meus pais na Suíça, com
eles e meu irmão Henrique que se deslocou lá propositadamente para estarmos juntos. No
entanto, todos estamos já aqui em Oleiros, onde já fizemos a passagem do ano.
És uma moça em terra
fria (neve) e de coração quente?
Sim, embora
tranquila.
Isso quer dizer que
não “sofres” de amores atualmente?
No sentido em
que me pergunta, não. Não sofro, mas...
Estamos a terminar esta entrevista. Que te parece a
afirmação do Primeiro Ministro ao dizer
aos licenciados para emigrarem?
Acho mal, porque quem deveria
incentivar mão de obra especializada e científica a fixar-se em Portugal
, criando-lhes condições para isso, acaba por estar a fazer completamente o
oposto. Há quem emigre por opção própria
mas emigrar por necessidade (não ter emprego no seu país) já é outra SITUAÇÃO.
Eu sou um desses casos.
No final, costumo dar espaço para uma mensagem dos entrevistados. No teu caso,
que dirias a todos, mas especialmente aos jovens para enfrentarem este ano duro como
se sabe?
Que nunca percam a esperança…
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Nota: no momento em que a entrevista vai para o ar já a entrevistada está de regresso ao seu trabalho.
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