janeiro 30, 2012

Hortense Martins, Deputada do PS por Castelo Branco escreve sobre o Interior

FICAR NO INTERIOR
É UM ATO DE CORAGEM
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Hortense Martins
hortensemartins@ps.parlamento.pt


  A austeridade não pode ser um fim em si mesmo. O objetivo tem de ser o crescimento económico, a criação de emprego. Só assim conseguiremos o desenvolvimento do nosso país.
E perguntamo-nos: estamos, por acaso, a fazer aquilo que devemos?
Todos sabemos e concordamos que temos de cumprir os nossos compromissos. Porém, importa perceber se as opções que estão as ser tomadas pelo Governo aos mais variados níveis são as corretas e as melhores para conseguir o cumprimento dos nossos objetivos, ou se pelo meio se vão tomando opções que acabam por ser contraproducentes e, portanto, até contrárias aos objetivos do défice e da dívida.

Temos que perceber que a Europa tem de encontrar forma de responder a esta crise das dívidas soberanas e que respostas comuns são necessárias. Em 2012, o Governo começou da pior maneira, porque apenas duas semanas após a entrada em vigor do Orçamento do Estado já se anuncia a quase impossibilidade de atingir o limite para o défice estabelecido sem medidas adicionais. Como fica entretanto a coesão do país com toda esta austeridade? Como fica o interior, que tem custos e dificuldades económicas inerentes ao seu despovoamento?
Adriano Moreira lembrou, numa recente entrevista na
televisão, que o país é tanto mais equilibrado e melhor quanto mais solidário for. E que precisávamos de uma nova lei das sesmarias, que obrigasse ao repovoamento do interior. Todos dizem que aqui – porque é no interior que estou a escrever este artigo – temos melhor qualidade de vida. Mas esquecem que temos de ter condições para termos empregos e assim desenvolver a atividade económica, para a qual as ligações e acesso aos mercados são fundamentais. Por isso, decisões como a colocação de portagens nas autoestradas do interior são contraproducentes em relação ao objetivo do desenvolvimento económico. É também incompreensível que a CP tenha alterado e deteriorado, nesta altura, o serviço prestado, substituindo as locomotivas por automotoras na Linha da Beira Baixa, que foi recentemente eletrificada e pode, nesta altura, ser uma alternativa ao custo exorbitante das portagens colocadas na A23, portagens das mais caras da Europa para uma população e uma região cujos índices de desenvolvimento são, notoriamente, baixos. Por isso, considero ser, sem dúvida, um erro e uma medida contraproducente ter acabado com o estatuto de Benefícios Fiscais à Interioridade, que era dos poucos incentivos para contrariar a realidade da desertificação do interior do nosso país. “Ficar é um ato de amor, e é preciso apelar a que os portugueses fiquem”, disse Adriano Moreira naquela entrevista. Eu digo que ficar no interior é duplamente um ato de amor e também um ato de coragem e de vontade de lutar ferreamente para inverter um certo estado de coisas, em Portugal e também na Europa.

Não percamos a esperança. Continuemos a lutar pelo reforço da nossa competitividade como meio para o crescimento económico e para o desenvolvimento. Sem o qual, até a política parece perder o sentido.

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