Hoje, o meu entrevistado é VITOR MANUEL DO CARMO CAVALHEIRO, da Sertã, com 59 anos de idade e casado com Maria Vicência Henriques Brito da Silva Cavalheiro.
É pai de um filho com 35 anos e desempenhou as suas funções profissionais como Coordenador Técnico no Centro de Saúde da Sertã, embora aposentado recentemente. Mas não é nessa qualidade que vamos falar, mas sim enquanto Presidente da Direção da FUS (Filarmónica União Sertanense).
É verdade que tem desempenhado durante vários anos funções em autarquias locais, nomeadamente:
- Secretário na Junta de Freguesia da Sertã no mandato de 1997-2001, eleito pelo grupo de independentes “Amigos da Freguesia da Sertã”, em que foi cabeça de lista.
- De 2002 a 2005 – Vereador da Câmara Municipal da Sertã eleito pelo Partido Socialista.
- De 2005 a 2009 – Vereador e Vice-presidente da Câmara Municipal da Sertã eleito pelo PS
- De 2009 até à presente data – vereador da Câmara Municipal da Sertã, na oposição, eleito pelo PS
Vamos então entrar por dentro da vida de uma colectividade prestigiada como esta (FUS) falando directamente com o seu Presidente:
- Há quanto tempo desempenha as funções de Presidente?
Fui eleito, num desafio lançado por alguns executantes da Filarmónica, em Junho de 2000 tendo sido sucessivamente reeleito até à presente data.
- Tem sido fácil desempenhar estas funções?
É uma função que exige uma grande dedicação. Nem sempre os apoios são suficientes para manter um trabalho de elevada qualidade. De qualquer modo temos conseguido superar as dificuldades, continuando assim a perpetuar esta quase bicentenário coletividade.
- Quantos elementos compõem a Banda?
A Banda tem cerca de 60 elementos no ativo sendo sensivelmente 40% do sexo Masculino E 60% do sexo feminino.
- A presença de elementos femininos é significativa e vê-se que existe muita juventude. Isso deve-se a alguma escola de música existente?
A nossa Banda tem sido rejuvenescida nos últimos anos, essencialmente alimentada por músicos formados na Escola de Musica da FUS, onde cerca de 40 alunos tentam aprender música para depois ingressar na Banda e colmatar as saídas de outros elementos que, pelas circunstâncias da vida se vêem obrigados a abandonar.
- A Filarmónica já celebrou quantos anos de vida?
A Filarmónica foi fundada em 01/12/1830 tendo assim celebrado no passado dia 1 de Dezembro o seu 181º aniversário.
- Quais são as principais fontes de receita?
As fontes de receita são essencialmente resultado de um protocolo que temos com o Município da Sertã e da receita também dos festejos populares. Podemos ainda considerar alguns apoios privados e de algumas empresas
- Pelo que diz, têm contado com o apoio significativo da CMS
Sim, a Câmara tem apoiado a colectividade, como já afirmei, através do protocolo que é assinado anualmente e ainda através da atribuição de alguns subsídios para apoio nos transportes de músicos que frequentam o conservatório em Minde.
- E agora, perante a crise que obrigou as autarquias a tomar algumas medidas de contenção, fez-se sentir nesses tipos de subsídios à FUS?
A Câmara decidiu manter os apoios de anos anteriores, atitude que temos de realçar.
- Li, há uns meses, no jornal local “A Comarca da Sertã” que a Filarmónica ia suspender a sua atividade. No entanto, posteriormente, recebi um detalhado e importante programa do aniversário. Afinal chegou ou não a suspender?
A atividade chegou a estar suspensa no mês de Setembro, uma vez que, até essa data , não tínhamos recebido qualquer verba do protocolo para satisfação dos nossos compromissos assumidos. Mas tudo ficou depois normalizado.
- Já lá vai algum tempo, mas permita-me perguntar; em termos das comemorações do aniversário correu tudo bem?
O aniversário foi mais um momento alto da coletividade, com participação num almoço convívio de muitos dos seus sócios, com excelente concerto na Casa da Cultura da Sertã e com a apresentação de um novo projeto, a revelar-se já um êxito, que é a sua BIG BAND
- Ao que sei, o maestro não vive perto da Sertã. Mas, na opinião de vários sertanenses vale bem o investimento na garantia dele poder dar o seu contributo excelente à Filarmónica. Está satisfeito com o trabalho deste profissional?
O facto de não viver na Sertã não tem afetado a sua prestação. O nosso maestro Nuno Silva, trouxe, na realidade, uma nova dinâmica e qualidade à Banda.
- Há duas Filarmónicas no concelho, a FUS e a Aurora Pedroguense. As vossas relações são boas?
As relações são excelentes
- Sendo as Filarmónicas expressões vivas da nossa cultura regional e até nacional, não deveriam ser subsidiadas também pela Secretaria de Estado?
As Filarmónicas são autênticos conservatórios regionais, viveiros de músicos, merecendo algum apoio do Estado, que nunca chega. Participámos em tempos, através da Delegação Regional da Cultura do Centro no programa Bandas em Concerto, acabando por desistir uma vez que era o Estado a explorar a Banda.
- As Assembleias Gerais da Associação têm sempre muitos sócios presentes?
Infelizmente as Assembleias Gerais são pouco concorridas. Têm sido os executantes e alguns pais mais interessados a compor as Assembleias Gerias.
- Sendo, como é, vereador do PS na Câmara Municipal e colocando a mão na consciência, já alguma vez sentiu que estava a misturar as funções de Presidente da Filarmónica com a vida autárquica?
Consigo facilmente separar as águas, contudo sei que a Coletividade tem sido penalizada exatamente por eu ser vereador da oposição.
- Imagino que, na Banda, exista muita “carolice”, amor à camisola, por parte dos seus executantes. Estou certo?
Os executantes são garante da Banda e muitas vezes os tenho elogiado publicamente pelo seu espirito de sacrifício e carinho que dedicam à coletividade. Para um jovem, em plena tarde de verão, com o calor de rachar, seria certamente mais apetecível estar na praia ou sentado numa esplanada, do que andar debaixo de um calor tórrido, a tocar numa procissão, por exemplo.
- Assisti, há algum tempo, à atuação das Filarmónicas da Sertã e de Oleiros, na semana da castanha e do medronho em Oleiros, que considerei de excelente nível. No final, as duas juntaram-se em palco e tocaram um número musical juntas, muito ovacionadas de pé. Vi que estavam praticamente ao mesmo nível. É um seu objectivo lutar permanentemente para manter esse nível? Com esta crise…
Tentamos sempre, e temos conseguido, melhorar. Sei no entanto que estando hoje no auge, poder-se-á amanhã dar um “trambolhão” e regressar à normalidade. Neste caso não será tanto o problema da crise mas a indisponibilidade, pelas circunstâncias da vida, de alguns executantes que, “emprestam” uma grande qualidade e segurança à Banda. Faz-se sempre a renovação mas há pedras basilares que ao saírem, afetam seguramente a qualidade musical que já nos carateriza.
- Quanto tempo tem ainda de mandato? É sua intenção voltar a candidatar-se?
O mandato terminará no próximo ano. Tenho uma equipa e era nossa intenção, não nos termos recandidatado nas últimas eleições, mas houve dois fatores que nos obrigaram a não abandonar o barco:
1º regularizar a situação financeira o que felizmente já aconteceu;
2º não deixar a coletividade no vazio uma vez que não apareceu qualquer lista para nos substituir.
Neste momento é prematuro saber se voltarei a recandidatar-me. A vontade é, não, no entanto há circunstâncias a ponderar e não quero ver destruído um trabalho de uma década.
- Quantos espetáculos faz, em média, a Filarmónica por ano, pagos ou não?
Em média a Filarmónica faz cerca de 30 atuações por ano.
- Para terminar Vitor Cavalheiro, que mensagem quer dar a todos, nomeadamente a sócios, simpatizantes e autarquias?
Aos sócios e simpatizantes peço-lhes que continuem a apoiar com mesmo entusiaamo e empenho que têm demonstrado nos últimos concertos que temos feito, porque é sem dúvida gratificante para os executantes e direção sentir o vosso apoio e carinho.
Às autarquias locais deixar a nossa disponibilidade para “experimentarem” um concerto de nossa Banda e da nossa Big Band porque os munícipes ficarão certamente muito satisfeitos com o espetáculo. Será seguramente uma agradável surpresa.
Para nós também o será com toda a certeza e agradeço a disponibilidade para dar esta entrevista.
Entrevista realizada por
Luís Mateus
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