julho 16, 2012

EXPOSIÇÃO “MEMÓRIAS DO ULTRAMAR”

EM OLEIROS


A CERIMÓNIA
Neste domingo, dia 15, foi feita a abertura da exposição fotográfica “Memórias do Ultramar” na Junta de Freguesia de Oleiros com apoio da Câmara Municipal, jornal “Oleiros Magazine” e fotodisco. Uma exposição bem conseguida, parecendo mesmo uma galeria oficial. Ali estão muitas das fotos de pessoas que ainda estão vivas mas serviram Portugal nas guerras do ultramar, pessoa que já faleceram e as que tombaram em combate ou outras situações.
As fotos foram cedidas pelos próprios ou familiares e devidamente tratadas tecnicamente a preto e branco pela FOTODISCO de Alberto Ladeira que, como se sabe, prima por um trabalho muito profissional.
Nesta exposição não se apreciam peças de arte de um artista mas é mais uma cruzilhada de recordações (várias), emoções muito fortes, sentimentos variados  e  representação do dever cumprido na defesa da sua Pátria, independentemente de ser ou não ser justa uma guerra que decorreu desde 1961 até 1975. Uma guerra que não só matou, como deixou sequelas, traumatismos e muitos mutilados marcas que em tantos “ainda hoje lhes tira o sono, os apoquentam”  decorrentes do cumprimento do seu dever
A exposição permite várias leituras da mesma realidade. Ali estão vivências diferenciadas. Uma belíssima exposição “pioneira a nível distrital ou mesmo nacional”. Isso porque se trata de uma ideia conseguida por uma Junta de Freguesia que afirma que “é uma homenagem  aos homens da nossa freguesia que combateram na guerra colonial, homenagem que se estende também às suas famílias”.


A homenagem foi limitada à freguesia de Oleiros, mas é impossível deixar de a ligar a todo o território nacional e a todos os militares envolvidos que frequentemente enchiam paquetes/navios como o Quanza, Pátria, Vera Cruz, Niassa e outros, deixando no cais de Alcântara familiares, namoradas e amigos em pranto. Era um adeus para muito tempo e logo para a guerra, lá muito longe com a incerteza do que aconteceria nos anos seguintes.
O impacto desta cerimónia e exposição foi muito envolvente, tendo a cerimónia de abertura decorrido no auditório da Junta sendo pequeno para tanta gente presente. Na Mesa encontrava-se o Presidente da Câmara Municipal de Oleiros, José Santo Marques, o Presidente da Junta de Freguesia, Alfredo Martins, representa da Direção da Liga dos Combatentes núcleo de Castelo Branco e o Tenente Coronel Pires Nunes que fez a intervenção principal, num relato na primeira pessoa com um grande conhecimento dos acontecimentos e as razões com pormenores da guerra em si. Uma excelente intervenção para quem viveu a realidade e continuou a estudar sobre esta realidade. Foi o convidado especial para dissertar sobre o tema da guerra no ultramar e falou das “outras guerras” como a que levou à independência do Congo em 1960, que a partir daí, sentiu-se uma grande pressão em Angola. Em 1964 foi a vez da Guiné e no ano seguinte é Moçambique que entra também em guerra. Nos dados que apresentou, 1240 foram mortos em combate mas no total (também por acidentes vários) elevou o número para 2070. Oitocentos mil militares passaram pela guerra do ultramar nesse período que terminou em 1975 de forma conturbada. No final do seu discurso, Pires de Lima mostrou-se bastante desagradado com a classe política “que despreza a minha juventude” porque foram “50 anos de desenganos, 50 anos são muitos anos. Ai tantos que regressaram, ai tantos que lá ficaram”.
Depois desta intervenção, o Presidente da Junta de Freguesia, pediu a todos que fizessem um minuto de silêncio em memória dos militares que faleceram. Fui cumprido. Alfredo Martins tinha aberto a sessão dando as boas vindas a todos os presentes e agradeceu a todos quantos contribuíram para que esta exposição se conseguisse tendo agradecido especialmente aos próprios ou familiares que emprestaram as muitas fotos que fazem partes dos quadros expostos. Disse que as entregaria rapidamente e que os quadros, esses, ficariam a fazer parte do espólio da Junta.

Presidente da Câmara também se emociona

Na cerimónia, como não podia deixar de ser, usou da palavra o sr. Presidente da Câmara, ainda antes da intervenção principal, que considerou a iniciativa de feliz e agradeceu à Junta pela ideia que apresentou desta organização de exposição e “a Câmara apoiou logo e suportou  todas as despesas”. Afirmou ainda que “esta exposição é diferente de todas as outras, porque neste país não deve haver quem não tenha um familiar que não tenha passado pela guerra” por isso justa e diferente. Chamou a atenção para as consequências que esta guerra teve, quanto a traumas e sequelas que são do domínio público. Fez agradecimentos, nomeadamente a Alberto Ladeira, João Carrega da RVJ, aos funcionários da Câmara e todos os que estiveram e estão envolvidos. Disse - “também estive no ultramar mas foi em Timor durante dois anos e meio e o meu pai faleceu oito dias antes de regressar com a emoção e alegria pelo regresso do filho, segundo confirmação médica.”


A voz aos ex-combatentes
“Ontem chorei ao entrar aqui no momento da montagem da exposição”


No final das intervenções da Mesa, foi dada a oportunidades a algumas pessoas presentes para usarem da palavra. Foi o que aconteceu. Foram feitas três num clima de muita emoção, carregadas de sentimentos profundos a dificultar até as suas próprias intervenções. O silêncio na sala era total. Na primeira das intervenções foi especialmente um tributo ao nosso amigo Lino, falecido em combate e veio de um companheiro que desempenhou as suas funções sempre junto dele. Veio para saudar a família ali presente. Seguiu-se outra que os nervos e a também a emoção o dominaram, mas não deixou de apresentar o seu percurso enquanto militar e homem da guerra. Finalmente, Júlio Martins, altamente emocionado e até com alguma dificuldade de pronunciar normalmente as palavras, deixou muitos dos presentes na sala com a lágrima no olho. Traçou um quadro realista da forma como se combatia no Ultramar, mas também as ansiedades nas vésperas das operações, os medos (sim os medos) que se apoderavam das pessoas “porque só agarrados à fé é que conseguiam enfrentar as operações em combate ou as patrulhas por terrenos perigosos”.  É verdade que muitos morreram por desastres, mas só da nossa freguesia, três caíram em combate. “As famílias escondiam-nos essas notícias tristes para não nos aumentarem o sofrimento. A minha geração, a nossa, deve testemunhar aos mais jovens estas realidades que me marcaram a mim e tantos outros. Sofremos, muitas vezes calados e depois destes anos os traumas lá estão nas cabeças de cada um”. Tratou-se de uma intervenção que encerrou a sessão debaixo da comunhão de sentimentos, porque quase todos ali sabiam bem o que foi o horror de enfrentar um inimigo em guerra subversiva, instigada cada vez mais por interesses políticos ( e não só), estrangeiros.
Esta foi uma iniciativa tocante, como tinha afirmado Pires de Lima.

A romagem ao cemitério e a homenagem a todos os mortos combatentes do concelho.
Seguidamente deslocámo-nos todos ao cemitério de Oleiros onde ali foi descerrada uma placa de homenagem aos mortos em combate de todo o concelho. Esta placa foi da responsabilidade da Liga dos Combatentes, onde o Presidente da Câmara fez uma breve intervenção e o representante da direção da Liga dos Combatentes do núcleo de Castelo Branco leu todos os nomes de todos os mortos do concelho e sempre que terminava a leitura de um dos nomes as pessoas respondiam “presente”. Foi então descerrada a placa que à entrada do cemitério ali fica para que todos possam ler e recordar homens que morreram na defesa da sua pátria.


O convívio
Para encerrar todos foram convidados pelo Presidente da Junta para “petiscar” algo no restaurante Anabela Peixoto onde continuaram as trocas das experiências e peripécias mas desta vez comendo e bebendo durante algum tempo até que foram saindo com a consciência de terem contribuído para um dia memorável, marcante e cheio de significado
.


 A exposição:
Estará patente ao público no bonito edifício da Junta. Impressionante, digna de ser visitada embora pela minha parte gostaria que ela estivesse no mês de agosto, mas a Junta tem a sua própria programação.
O nosso obrigado aos elementos da Junta (destaque para o Alfredo Martins e Nuno Matos e a própria funcionária Carla) e logicamente à Câmara Municipal.

Vista parcial da exposição

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