setembro 28, 2012

O Café do ZÉ e o ZÉ do Café

Hoje  vou falar do José Boaventura mas que todos mais conhecem por “Zé do Café”. Vou tratá-lo assim, porque sempre assim fiz e ainda hoje quando as pessoas me convidam (ou eu a elas) para irmos tomar algo perguntamos sempre “vamos ao Zé do Café”?

Desde muito novo que frequento esta casa e sempre aqui encontrei por parte deste verdadeiro oleirense uma amabilidade de salientar, um carinho no “servir”, uma amizade alargada também  à Guiomar, sua esposa, (casaram a 23 de Setembro de l969) e, posteriormente, às suas filhas Fernanda e Lena. Hoje já se estendeu aos netos do Zé e por todos sempre senti e sinto uma enorme estima. Mas não sou só eu também muitas pessoas.

O café é central e tem como clientes pessoas que ali vão ler jornais, tomar o seu café ou algo diferente. Muitos/as dos clientes acabam por aproveitar para conviver e pôr a escrita em dia, como diz o povo. Trocam-se informações, fala-se da vida, da vida das pessoas, enfim, de tudo. Nos dias de mercado encontra-se aqui gente de vários locais e freguesias de Oleiros porque quem é natural deste concelho conhece o café do Zé e o Zé do café.

Abriu em 1954 e foi dos primeiros em Oleiros. Até então predominavam, na Vila, as tabernas tradicionais. A partir daí foram 57 anos a trabalhar assiduamente, abrindo cedo e fechando tarde sem nunca ter tido férias. “Somente saiu daqui para ir ao casamento da sua sobrinha a Lisboa”, afirmaram as filhas. Sempre foi o detentor do único “posto de totobola” (hoje, posto de jogos da Santa Casa da Misericórdia) e que já existe aqui há 45 anos. Houve momentos que, quando a carrinha não passava para recolher os boletins das apostas (hoje já tudo é automático), o bom do Zé Boaventura tinha que se deslocar a Cernache do Bonjardim para garantir a entrega, sem falta, das apostas.

Sportinguista como poucos, levou muitos a segui-lo e a fazerem deste café uma autêntica sede sportinguista. Às segundas feiras  – quase toda a semana – ali se comungavam vitórias e derrotas sem que os benfiquistas lhe dessem tréguas só para ver o Zé puxar das suas justificações para tudo e as suas estratégias como se fosse ele o treinador. Eu próprio, desde moço e sendo do SLB, habituei-me a desafiar a sua veia clubística, mas nunca levei a melhor. Porém nunca este grande homem me endereçou qualquer palavra menos correta. Mas a verdade é que estava aqui, centrado em Oleiros, o pulmão regional da discussão sobre o futebol.

Outra característica do café do Zé é que tinha e tem telefone público com todas as histórias que durante tantos anos aconteceram. Poucas eram as pessoas que, então, tinham telefone. Quantos telefonemas chegavam aqui para deixar um recado aos seus familiares ou marcar a hora para estarem presentes e assim poderem conversar? Só estas situações e as razões que estavam na base dos telefonemas e  juntando esta forma e dedicação ao servir as pessoas davam um livro interessante. Alguns recados eram difíceis de dar, porque se tratava de uma má notícia, mas também havia as enormes alegrias das pessoas ao poderem ouvir, ali neste café, a voz de alguém querido que estava “lá por Lisboa” (parecia no fim do mundo) ou outro local qualquer.
E o recado sempre chegava graças ao Zé, à sua amável esposa Guiomar que, tantas vezes, era a primeira palavra de conforto para algumas pessoas ou de comunhão na alegria quando as informações eram boas. Mas não pensem que falo somente de histórias antigas porque, algumas, são bem recentes. “Até para chamarem os bombeiros recorriam a nós embora hoje esse problema se resolva através dos contactos próprios para o efeito” – afirmaram as filhas.

Quanto aos clientes deste café, digam o que disserem, fazem parte da considerada socialite local. Ainda hoje o é, se puder aplicar este adjectivo a um conjunto de pessoas de Oleiros. No entanto qualquer pessoa entra e sente-se bem. O ambiente é bom, o espaço é que chega a ser pequeno para certos dias da semana e ano mas, como em todos os outros comércios, quando os visitantes partem após as suas férias, cai sobre Oleiros uma certa monotonia. Aqui como em muitas outras localidades do interior.

Para quem não conhece a situação do Zé do Café infelizmente algo mudou. Hoje, o nosso amigo já não consegue estar à frente do seu café porque a sua condição de saúde exige que esteja 24 horas por dia ligado a uma máquina de oxigénio. Não está bem não, embora a esposa e  família o rodeiem de muitos cuidados, carinho, apoio e amor para que se sinta menos angustiado e menos doente fisicamente e, especialmente, na alma. É que o seu mundo reduziu-se à sua casa, à sua cama.


O casal, como se sabe, tem duas filhas simpatiquíssimas, a Fernanda, que está dirigindo o café, e a Lena, que tem dois estabelecimentos comerciais abertos, o ModelSport e Modelsport Kids, situados pertinho do café, um na rua Padre António de Andrade e o outro na rua Dr. José de Carvalho.
A Fernanda está casada com Fernando Lourenço da Graça (trabalha na secretaria dos Bombeiros) tendo dois filhos
- Beatriz Boaventura Graça com 17 anos e
- José Pedro Boaventura Graça de 12 anos de idade.
A Lena é casada com José Carlos Antunes Antão (GNR e treinador do Futsal da casa do Benfica em Oleiros) que são pais de duas jovens: Francisca Boaventura Antão, de 9 anos e Caetana Boaventura Antão de 4 anos.
O Antão refere-se ao sogro como sendo “um homem muito honesto, sincero, amigo do seu amigo e super-profissional”. A Fernanda repetia-se, afirmando, que “ele é mesmo um bom pai, sempre trabalhou para ver as filhas bem” e os olhos deixavam cair sucessivamente lágrimas de emoção. A mana repetia o mesmo o mesmo sentimento pelo pai.

É para este pai e avô, que também faz parte das minhas referências em Oleiros, que dedico esta minha humilde referência, porque se sempre contei com a sua esmerada amizade também nunca foi mínima a minha por ele e pela família. A última vez que o fotografei foi numa pequena deslocação que ele conseguiu fazer à tenda no Largo do Município aquando da semana das castanhas e do medronho e onde vi e ouvi o carinho das pessoas que o envolviam com muita amizade de o ver bem melhor e com forças para ter ido ali. Deixo essa foto com a filha Lena (ao cimo) como recordação desse momento.

E porque sei que nosso Zé do Café se cansa muito a falar, falei eu hoje um pouquinho dele e para ele porque sei que vai ler estas linhas. Desejo que recupere, que existam as melhoras na saúde, para ter a força de viver com a alegria possível e continuarmos a contar com este nosso amigo. Um abraço José e quero aqui relatar como vão ser as bodas de ouro em 2019. Vale? Claro que sim, até as de Diamante. Deus vai ajudar.

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