A forma semelhante ao útero, virada
para nascente, origina teorias de que por trás das sepulturas
megalíticas estaria a crença no renascimento. Escavar uma anta, como
durante quase quatro semanas uma equipa de arqueólogos escavou nas
Moitas, é ir para além dos vestígios materiais e procurar que eles falem
de quem habitou o terreno há 6 a 4 mil anos, desvendando pormenores
sobre a economia, a alimentação ou as crenças.
Resultante de uma parceria entre a Associação de Estudos do Alto Tejo
(AEAT) e o Município de Proença-a-Nova, o campo arqueológico na Anta do
Cão do Ribeiro permitiu pôr a descoberto o monumento formado pela câmara
dolménica, o corredor, o átrio de acesso e todo o aterro construído
para cobrir a cripta, com uma massa que parece argila e será analisada
pelo laboratório Hércules, na Universidade de Évora.
Relevante foi também o número de objetos encontrados, com ausência de
instrumentos de moagem de cereais e grande quantidade de machados,
pontas de seta e lâminas. João Caninas, da AEAT, mostra com entusiasmo
um pedaço de uma alabarda (arma antiga de cabo longo) ou um pedaço de
amuleto em xisto riscado, que era usado ao peito. “Encontrámos também
pedaços de cerâmica e hoje já são possíveis análises para perceber se
estes recipientes contiveram produtos com gordura”, revelando assim um
eventual uso na alimentação, explica.
Feito o trabalho de campo, seguem-se tarefas como a análise das peças
(todas em pedra ou barro cozido), o desenho de cada uma e dos vários
cortes feitos durante a escavação. Em outubro, o objetivo é reconstruir o
que falta da mamoa. Será criado um circuito para a tornar percetível,
numa fase em que, com a conclusão do IC8, será também possível retomar o
percurso pedestre em que a anta está integrada.
Património por desvendar não falta no concelho, sendo elevada a
densidade de monumentos megalíticos no eixo central que vai do Vale da
Mua às Moitas e Proença-a-Nova. Georg Leisner, que percorreu o concelho
talvez antes de 1938, deixou inventariadas 95 antas, mas esta é a
primeira escavação arqueológica nesta área. A equipa foi integrada por
sete arqueológicos, incluindo voluntários e uma estagiária do mestrado
de Arqueologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Em
visita ao campo – possível graças à colaboração do proprietário, António
Jesus Lourenço – estiveram ainda técnicos da Universidade de Évora e da
Direção Regional da Cultura do Centro.
- Município
Sem comentários:
Enviar um comentário