Sessão incluiu leitura de trechos do antigo
ministro que se destacam pela actualidade política
Numa autêntica aula de história viva, a filha do antigo ministro Francisco Cunha Leal partilhou ontem, numa sessão integrada nas comemorações locais do centenário da República, as memórias que guarda do democrata oposicionista do regime de Salazar. Além da personalidade marcante do beirão republicano que aos 32 anos era ministro das Finanças e um ano depois presidente do Conselho, Maria Helena da Cunha Leal recordou episódios vividos com algumas das figuras marcantes da I República.
A viver com o pai no exílio em Espanha, aos 10 anos recebeu das mãos do presidente Bernardino Machado – que visitava frequentemente Cunha Leal – a primeira rosa da sua vida. E foi também nessa altura que contactou com Afonso Costa, que lhe curou o desgosto de uma avaria do seu primeiro relógio, pondo-o a funcionar em poucos minutos. Maria Helena, de 87 anos, é a única filha viva do antigo estadista e contagiou a assistência com a vivacidade imprimiu à evocação do pai, “uma força da natureza” que se destacou pela coragem e lealdade aos princípios democráticos com que encarou a vida pública.
Na iniciativa, promovida em parceria pelo Agrupamento de Escolas de Proença e pela Câmara do Fundão, com o apoio do Município, foi apresentado um excerto de um documentário sobre Cunha Leal, que estará concluído em Outubro e mostra a importância da infância do político na serra da Gardunha, na aldeia de Alcaide.
Do programa constou ainda a leitura de 23 trechos de textos e discursos de Cunha Leal, percorrendo tanto as referências à Beira Baixa como o seu pensamento político e reflexões existenciais. Nesta leitura partilhada colaboraram alunos da Escola Pedro da Fonseca, professores e encarregados de educação. E não podia deixar de ser salientada a actualidade de algumas das reflexões do antigo estadista, quando se referia ao “presente aparentemente catastrófico” e ao atraso estrutural do país. “Na estrada do progresso os povos parados são povos irremediavelmente perdidos. E Portugal marcha vertiginosamente para um aniquilamento total”, escrevia na década de 60.
Pedro Salvado, da Câmara do Fundão, destacou o “cruzar de interioridades” desta parceria e a mais-valia de as autarquias trabalharem em colaboração. Os alunos das turmas de 9º a 12º ano que participaram foram convidados a deslocar-se ao Fundão, para repetir a iniciativa. Durante a sessão foram expostas obras de Cunha Leal, entre as quais "Calígula em Angola", da qual restaram poucos exemplares por ter sido visado pela Censura.
Fonte: site da CM
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