abril 21, 2012

A Escritora Lurdes Breda em Entrevista ao "Olhar Oleiros"

ENTREVISTAR LURDES BREDA ERA ASSUMIDAMENTE 
UM OBJETIVO MEU. FICA AGORA AQUI MUITO
DO QUE ADMIRO NESTA ESCRITORA CUJA OBRA  
                                           CRESCE EM ESPIRAL


ALGUM DO PERFIL

Qual é o teu nome completo?
      Lurdes Breda (é suficiente)
E a tua data de nascimento é?
      5 de Maio de… (ops! Esqueci-me do ano, eheheh)
Estado civil…
      Solteira (e boa cachopa)
És natural de uma boa terra
      Sim de Montemor-o-Velho (que fica situado entre Coimbra e Figueira da  Foz)
Tem mais irmãos?
      Uma manita (que adoro) e um manito (cunhado, que também adoro)Escolas frequentadas
      Escola Básica do Seixo, Escola Secundária de Montemor-o-Velho e Universidade Aberta
Que curso frequentas ou acabaste?
      Línguas e Literaturas Modernas – Estudos Portugueses 


CORPO DA ENTREVISTA

Luís Mateus (LM) – O gosto pela escrita em geral, nomeadamente pela poesia, foi algo que surgiu muito cedo na tua vida?
 
Lurdes Breda (LB) – Sim, e nem sei bem o momento exato. Eu diria que foi quase uma característica genética. Assim como se nasce com olhos azuis ou cabelos negros, eu nasci com paixão pelas letras.

LM – Qual foi o teu primeiro livro?
 

LB – O meu primeiro livro foi editado em 2004 e intitula-se “O Misterioso Falcão de Jalne”. É um livro de ficção. Suspense até ao fim!

LM – Escreves muito bem para crianças, com livros maravilhosos. No entanto, não é o teu público-alvo exclusivo…
 
LB – Obrigada pelo elogio (smack!). De facto, escrevo maioritariamente para crianças, mas tenho outros públicos/leitores também. Sempre gostei muito de escrever prosa e poesia para os mais crescidos. É outro género de desafio (adoro desafios!). É um estímulo à minha capacidade de criação e às minhas potencialidades literárias. Ao “dominar” outras vertentes, torno-me muito mais completa enquanto escritora e enquanto mulher.

LM – Que livros editaste até agora?
 
LB – Acho que será menos fastidioso para os teus leitores (e para os meus, já agora), verem neste link a lista de livros editados e escolherem o resumo daquele(s) que mais lhe(s) possa(m) interessar ler:
http://lurdesbreda.wordpress.com/obras/

LM – Tens-te desdobrado em ações de divulgação dos teus livros nos mais diversos cantos do país. Indica-me alguns.
 
LB – Isso é um pedido muito difícil… Pois, cada local e as pessoas que me acolhem são diferentes e especiais à sua maneira. Seria indelicado da minha parte destacar algum em detrimento dos restantes. Mas, digo-te que tem sido verdadeiramente fantástico descobrir as pessoas e os lugares que o nosso país acolhe. Essa é, também, uma das muitas possibilidades que a literatura me proporciona. Conhecer Portugal e as suas gentes e, apesar do desânimo, das dificuldades, da crise, sentir orgulho e afeto pelas pessoas e pelas tradições que vou conhecendo. Somos um país pequenino (como eu, eheheh) mas cheio de diversidade e com coisas muito nossas. Aliás, vários foram os escritores, que ao longo dos séculos nos foram dando a saber isso mesmo. Muitos livros são, por isso, um testemunho valioso da história, património, sociedade, tradições e etc.

    Lançamento do novo livro “lua em flor”
            a 25 de abril de 2012

LM – Já li alguns livros teus, mas tenho também uma enorme expectativa no novo título que vais lançar dedicado ao público adulto. Adorei alguns poemas a que me deste acesso. Fala-me deste livro e da sua linda capa.

LB “lua em flor” é, de facto, um projeto muito especial. Engloba conto e poesia divididos pelas quatro fases da lua. Uma parte dos textos foi premiada em concursos quer em Portugal, quer no Brasil. Inclui, no entanto, muitos trabalhos originais. Mostra um pouco da minha evolução literária e, sobretudo, dá a conhecer o meu lado mais feminino e sensual. Foi nesse sentido e, conhecendo melhor do que ninguém o conteúdo do livro, que eu escolhi para a capa uma das telas da pintora brasileira Ana Luisa Kaminski. Fiquei imediatamente “presa” à imagem que vi e penso que funcionou muito bem, tanto esteticamente como na mensagem visual que eu pretendia transmitir.

LM – A Lurdes está em cada página deste livro ou mais declaradamente nalgum dos poemas?


 Sinto essa feminilidade/sensualidade
 não só da terra, mas também da lua


LB – Evidentemente que há sempre um pouco de mim em cada página (mais numas do que noutras). Sou uma pessoa positiva, sensitiva e, às vezes, até um pouco provocante nas palavras. Sinto-me muito ligada à terra e a tudo quanto dela frutifica. Sinto essa feminilidade/sensualidade não só da terra, mas também da lua. A lua projeta voluptuosidade, influencia plantas e marés e, de igual forma, influencia-me a mim. Diria que é um livro no feminino.


LM – Cada livro é um pouco de ti ou da escritora e poetisa? Como é que tu consegues atingir o coração das outras pessoas?

LB – Os meus livros têm um pouco de ambas. Aliás, penso que é impossível dissociar a mulher da escritora ou da poetisa. Só se consegue alcançar o coração dos outros, se colocarmos nesse objetivo o nosso próprio coração. Escrevo o que sinto, porém, depois, tento ter algum distanciamento e assumo o papel da escritora. Revejo os meus textos com olhar crítico, não só do ponto de vista técnico, mas também a pensar na perspetiva de quem os irá ler.


LM – Sinto que tens muitas pessoas amigas a apoiarem-te e colaborarem na divulgação do que fazes. Desdobras-te em agradecimentos públicos. Esperavas todo este carinho?
LB – É verdade, Luís (tu incluído!). São essas pessoas e esse carinho imenso que me têm, que faz a minha vida e aquilo que faço, terem sentido. De que me serviria escrever para mim própria? De que serviria editar livros só para prazer pessoal? Seria um ato vazio. Escrevo e edito para partilhar palavras e afetos. Se esperava todo este carinho? Bem… Tento trabalhar para o conquistar, para o merecer. A verdade é que o ser humano tem a capacidade de surpreender e todos os dias as pessoas me surpreendem e ainda bem que assim é. Tenho o privilégio de ter a admiração de gente de todas as idades e cultivo isso mesmo. Porque cada etapa da vida é importante e tem muito a ensinar-me.

LM – Gostas mais de escrever poesia ou prosa? Não é muito comum encontrar quem escreva com a capacidade nestas duas vertentes…

 "a prosa e a poesia são estados de espírito diferentes"

LB – Como eu costumo dizer, no meu caso pessoal, a prosa e a poesia são estados de espírito diferentes. Portanto, não tenho preferência por um ou pelo outro, porque não os posso comparar e acontecem naturalmente. A prosa, por norma, é mais objetiva e a poesia tem características mais subjetivas. Contudo, até nem há assim diferenças tão radicais nestes dois géneros, no que se refere à minha escrita, porque a prosa acaba por ser algo híbrido, ou seja, escrevo acentuadamente prosa poética.

LM – Normalmente qual é o teu local de trabalho?

 LB – Gosto do sossego e da intimidade do meu quarto para esboçar as primeiras letras no papel, mas, regra geral, trabalho no escritório. Gosto do silêncio com o canto dos pardais que me chega da rua. Do rumor do vento nos ramos das árvores…

LM – Todos te devem fazer esta pergunta, mas, quem é o teu ídolo enquanto escritor/a?

LB – Admiro vários escritores, tanto portugueses quanto estrangeiros. Mas, desde há vários anos, que admiro o escritor moçambicano Mia Couto. Consigo sentir nas páginas dos livros dele o fascínio por África, que ele descreve de forma muito própria. Além disso, também escreve muito bem para crianças.

LM – Numa época em que o digital predomina, os números indicam que cada vez há mais leitores de livros em papel, isto não te parece uma contradição, já que online existem tantos livros que se podem ler?

LB – Não me surpreende, apesar de saber que o número de leitores digitais também aumentou, certamente. Para mim, a sensação de ter um livro nas mãos, não é a mesma de ter o livro em suporte digital. O toque, o cheiro, o aconchego que as páginas de um livro me transmitem são únicos. Ao ler digitalmente é como se faltasse alguma coisa… A leitura não é completa, não realiza. Sou defensora dos livros em papel, mas também entendo e apoio o uso das novas tecnologias ao serviço da literatura. O importante é que as pessoas leiam, aprendam e sintam as palavras, seja de que forma for.

LM – Conta-me uma situação que te tenha agradado suficientemente na vida.

LB – Felizmente, têm sido bastantes as situações e os momentos bons na minha vida. Suficientemente bons para superarem os maus, por mais pequenos ou insignificantes que possam parecer aos olhos dos outros. Agrada-me, sobretudo, estar viva, ter saúde, ter um teto para me abrigar, comida na mesa, família e amigos para partilhar os bons e os maus momentos. O resto vem por acréscimo.

LMImagina-te virada para milhões de pessoas. Que mensagem lhes transmitirias, de modo a arrancar um mar de palmas ou um silêncio absoluto, porque a vida nem sempre são rosas?

Não olhem nem pensam muito para as notícias
muitas diminuem a esperança. Mantemo-la!

LB – Se calhar, pedia a essas pessoas, que às vezes se lamentam ou se irritam por pequenas coisas no seu dia-a-dia (eu incluída), para pensarem ou olharem para as notícias, que todos os dias nos chegam, de gente sem nada, gente que (sobre)vive em cenários de conflito, fome, doenças… Gente, que apesar de tudo isso, mantém a capacidade de sorrir e de se agarrar à vida. Talvez assim aprendamos a dar valor àquilo que realmente importa e a sermos mais fraternos e tolerantes.

LM – Para terminar, quero desejar-te os maiores êxitos e exigir-te mais e mais livros para bem da cultura em geral e da formação interior de cada pessoa que te lê. Obrigado por esta entrevista. Voltarei sempre que assim o consideremos importante. Dá cá um beijo…

LB – Meu caro Luís, eu é que agradeço o interesse e o carinho. Prometo tentar continuar a escrever mais e melhor. De ti, e dos restantes amigos/leitores, espero críticas sinceras e construtivas, para corrigir o que estiver menos bem e evoluir em termos humanos e literários. Volta sempre que o desejares, serás muito bem-vindo. Toma lá antes dois beijinhos (Smack! Smack!).


Entrevista realizada por Luís Mateus
em 20 de Abril de 2012






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