maio 21, 2013

Entrevista com Vereador, o homem, Aniceto Rijo


                                    Aniceto Rijo, Clara, Eduarda e Alexandre

Num destes serões em que a chuva caía e tudo indicava gozar o calor da lareira, escolhi a da casa do Aniceto Rijo e aproveitar para falarmos sobre a sua vida – origens, passado, presente e ler neste oleirense o que pensa de tudo o que é o seu meio espreitando também a vertente dos seus interesses e preocupações no futuro.
Este homem carregou o peso de ser “retornado”, o saber adquirido pela entrega contínua ao trabalho diversificado, à entrega aos outros e defesa dos outros – pessoas e bens – nos Bombeiros de Oleiros, também enquanto autarca na Câmara Municipal, na parte cultural por estar à frente do Rancho Folclórico, Presidente da Associação de Encarregados de Educação no Agrupamento de Escolas Padre António de Andrade e dedicado e esforçado empresário em Oleiros. É então sobre todas estas questões que vamos deixar o relato da nossa conversa, respeitando a sequência da mesma.

A sua origem
É filho de Silvino Rijo (já falecido) e de Noémia Caldeira. O Silvino era polícia e, por opção, foi para Moçambique onde estiveram 11 anos. O Aniceto tinha somente um ano (nasceu em Lisboa) quando partiu mas já fez os 12 quando regressou a Portugal. Viveu, com os seus pais e irmão Helder Rijo, toda a confusão e incerteza do futuro nas dificuldades decorrentes de serem “retornados”, com tudo o que isso acarretava. Os traumas dos últimos tempos em Moçambique marcaram muito este jovem. Estávamos em 1975 e era confusão a mais para adultos mas quase o fim do mundo para os jovens desta idade que viram ficar, lá distante, uma infância para ter que descobrir novos amigos, frequentar novas escolas, enfrentar problemas de verdadeira integração.
Quando regressou veio acompanhado pela mãe que teve de o cá deixar, conjuntamente com o irmão e voltar a Moçambique. Ficaram a viver com a avó Eulália que, nesta altura da vida, encontra-se no Lar em Orvalho.
Posteriormente os pais vieram definitivamente e foram viver para o Ribeiro de Peso, onde os jovens já moravam. “ Primeiro, na casa da minha avó e, depois, no curral de bois o que levou o meu pai a melhorar essas instalações, mas sempre a pensar vir a construir uma casa nova”, afirmou o Aniceto. E continuou, afirmando que, “o meu avô Abílio Martins Rijo” deu ao meu pai um terreno no lugar da Senhora das Candeias onde ali construiu a casa que se conhece e que foi aumentando de acordo com as possibilidades. É onde mora a minha mãe”.
O trabalho – o Empresário
Com 14 anos e no dia que terminaram as aulas “comecei logo a trabalhar na firma “Família Electromóveis” aqui em Oleiros e depois fui para uma serralharia de alumínios e ferro, Alumínios Ventura”. Seguiu-se o cumprimento da vida militar e desempenhou as funções de desenhador de construção civil pois, “já tinha conhecimentos nesta área e seguidamente fiz projetos até aos meus 40 anos. Abri então, conjuntamente com o meu pai uma marcenaria cujas instalações e máquinas ainda existem. Entretanto casei (30 julho de 1988) e restruturamos no cimo da Vila uma casa de pneus por sugestão do meu sogro Alírio Rodrigues. Para isso reformulou-se a antiga e célebre moagem de Manuel Rodrigues David o avô da Clara, minha esposa. Para responder mais e melhor e utilização de novas técnicas (máquinas) precisávamos de um novo espaço e foi quando instalámos uma oficina na zona industrial da Alverca, onde nos mantemos designada por AUTO PENEUS DO PINHAL. Mas, entretanto, (1998) como em Oleiros tinha encerrado a “padaria Ramos”, eu e o Fernando Alves achámos que tinha de haver aqui, forçosamente, uma padaria e construímo-la, de raiz, também na zona industrial. Atualmente já não somos os proprietários continuando a funcionar com enorme êxito e qualidade, é a Padeirinha do Pinhal”

A vida como bombeiro
Tem 31 anos de serviço mas atualmente não desempenha. Todos conhecem a sua dedicação e saber, a entrega e satisfação enquanto desempenhou funções. Era uma casa de bombeiros, ele, o irmão Helder e o tio João Rijo. O seu maior gozo dentro desta Instituição “foi a camaradagem, a ajuda ao próximo e a salvaguarda do património. Este Corpo de Bombeiros é como que uma escola para muitos outros e posso dizer mais, “antigos dirigentes nacionais chegaram a afirmar que Oleiros era a universidade do combate aos fogos florestais”.
Tem muita honra em ter pertencido a esta Associação e, só saiu porque a sua vida profissional já não lhe permitia ter a disponibilidade que agora é exigida, disse.
“Estou certo de que a forma de trabalhar dos bombeiros da zona do pinhal é ímpar na sua eficácia. Temos a sorte de ter um bom CODIS (Rui Esteves) e ser um excelente Comandante, aprendeu muito connosco”. Em jeito de apreciação afirmou com satisfação que foi o último Comandante a colocar-lhe os galões de Chefe.
É medalhado com ouro, prata, bronze e diploma de serviços distintos atribuídos pela Liga Nacional de Bombeiros. É agora Chefe do Quadro de Honra desde outubro de 1998. Fez parte de duas direcções e teve como Comandantes os senhores Álvaro Ferreira de Matos (falecido), José Coelho Caldeira, Francisco Luís Domingues, Armindo Lopes e Francisco Fernandes.
“O que mais me marcou? Sem dúvida o fogo de 2003, Foi de loucos. Todos sabem como foi a sua propagação incontrolável. Em 1999 vi quase a morte no Alto da Corujeira: o lume cercou-me e tive de me meter na valeta e ele passou por cima, estava sozinho e isso nunca se faz. Em 2002, depois de noites sem dormir e a apagar fogo com o Comando Superior a insistir, quando conduzia o carro do Comando na localidade do Pedintal, mais uma vez sozinho, adormeci e fui para a valeta, do outro lado da estrada estava um precipício abismal”.
Desempenho no Rancho Folclórico e Etnográfico de Oleiros
Pelos anos oitenta é que se verificou a sua aproximação ao Rancho e foi através do seu padrinho, João Rijo, com o objectivo de aprender a tocar acordeão, mas diz que nunca o conseguiu atingir. “Já na situação de empresário e nesta última fase do Rancho (reinício), solicitaram-me que oferecesse a importância em dinheiro que permitisse comprar o tecido “sorrobeco” para os trajes. Fi-lo com todo o gosto e quatro anos depois já estava na Direção através de convite”, afirmou Aniceto.
Agora continua como Presidente da Direção entusiasmado porque considera que este é um excelente Rancho e que muito tem feito pela cultura de Oleiros e levando o seu nome a vários pontos do país e até alguns pontos do mundo, através da divulgação dos meios visuais e sonoros.
O Rancho tem sede própria no Carril (Vila) cujo edifício foi construído para tal fim pelos executantes com apoios dos oleirenses, por empresas e, na parte final, também pela Câmara Municipal e Junta de Freguesia. O terreno foi oferecido (e é hoje propriedade do Rancho) pelo sr. João Rei (falecido), grande oleirense e muito amigo de manter vivas realidades da nossa terra como a Banda e o Rancho. Atualmente existe um projeto de alteração do original.
O Rancho tem aproximadamente 50 elementos, atua muitas vezes sem cobrar qualquer importância mas outras vezes cobra só o montante que dê para pagar as despesas com os instrumentos e aos tocadores de instrumentos musicais. “Estamos sempre à disposição da Câmara Municipal, das Juntas de Freguesia e Santas Casas de Misericórdia. Muitas outras atuações fazemo-las pelo sistema de permuta com outros Ranchos ou outras organizações do tipo”, afirmou Aniceto Rijo.
O mesmo fez sentir que, quando chegou ao Rancho “não havia nada que perpetuasse usos e costumes da nossa terra e, por isso, lançámos já dois DVDs temáticos e feitos por profissionais e lançámos também 1 CD musical. Estamos já próximo do relançamento da nossa página de Internet e já estamos no Facebook. Tudo isto se consegue graças ao excelente grupo de trabalho que lá tenho”.
Participação na comunidade escolar
Os seus dois filhos, Eduarda e Alexandre, foram e são como ele foi alunos na escola Padre António de Andrade que é hoje Agrupamento. Como tal, Aniceto Rijo interessou-se sempre pela vida na e da escola e, há vários anos, é o Presidente da Associação de Encarregados de Educação. Mostra-se contrário à formação dos mega-agrupamentos porque, afirma, “esse processo pode vir a prejudicar muito Oleiros”.
O político, o Vereador da Câmara
É vereador na Câmara Municipal de Oleiros, eleito como independente nas listas do PS. Os outros quatro vereadores são do PSD. Não escondeu a sua desilusão “devido ao facto de não ter tido apoio por parte das estruturas da força política e cuja lista encabecei em relação a alguns projetos que geram e geraram alguma controvérsia” e continua a precisar melhor, “algumas propostas apresentadas necessitavam mais discussão, por vezes surgem já como que concretizadas. No entanto, desempenho as minhas funções de vereador por Oleiros.”
No meio da conversa sobressaíram expressões que não posso deixar de apresentar. Uma delas foi “os tempos mudam e a nossa forma de estar também, como Oleirense lutador e perspicaz que sou estarei sempre alerta para defender este concelho”. Pela análise destas palavras e doutras ficámos praticamente com a certeza de que, provavelmente, não o teremos como cabeça de lista pelo PS nas próximas eleições autárquicas. A segunda expressão está ligada a projetos que gostaria de ver realizados. Um tem a ver com a proteção da floresta “este é o nosso pulmão e o nosso sustento, as autarquias têm que ter mais atenção com a realidade que se verifica. Sem conhecermos o passado não podemos fazer o futuro, temos um significativo património habitacional e etnográfico e, deste ultimo, não temos um local específico para o mostrar”.  Já quanto ao turismo local, Aniceto Rijo defende que “tem que existir uma estrutura ao nível concelhio, que envolva todos os operadores locais e os interessados de forma a proporcionar uma amostragem da beleza do nosso concelho e da diversificação de propostas que temos. Existe muito trabalho a fazer neste sector”.
Por fim, após alguma insistência, mostrou o esboço de projeto que gostaria de ver implantado nas Devesas Altas, afirmando ”assim, as nossas associações/coletividades teriam um espaço condigno para as suas apresentações, as crianças um espaço aberto para brincar e o Maranho simbolizado na zona do pinhal”.
Não acabámos a conversa aberta sem que o Aniceto salientasse que, “apesar das diferenças ideológicas, sempre existiu um respeito mútuo importante para o funcionamento democrático da autarquia”.
 Entrevista  conduzida por Luís Mateus
maio de 2013



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